A falta de conhecimento técnico pode ser mais prejudicial que os trihalometanos (THMs) em si. Essa é uma das conclusões que se pode chegar na entrevista que Sidney Seckler concedeu na 3ª Semana da Água Hidrogeron.
“Qualquer que seja o agente oxidante e desinfetante que utilizemos no tratamento de água de abastecimento existe a possibilidade de produção de subprodutos da desinfecção. No caso do cloro, o desinfetante mais utilizado no mundo, por 99% das ETAs , também existe a produção de subprodutos da desinfecção, sendo que os mais significativos são os THMs e os ácidos haloacéticos. Isso em si não é um problema. O problema é se essas concentrações excedem os padrões de potabilidade vigentes de forma constante e regularmente” afirmou Sidney Seckler, professor de Engenharia Sanitária, Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
A formação de subprodutos da desinfecção no processo de cloração de águas de abastecimento humano tornou-se um tema polêmico nos últimos anos, mas a falta de conhecimento técnico gerou certo alarde e acabou criando preconceito com o uso de cloro no tratamento de águas de abastecimento “É uma carência técnica. O que observamos muitas vezes é que as companhias não tem um trabalho de monitoramento da água da água tratada que te permita gerar dados e estabelecer riscos” apontou Seckler, durante a entrevista.
Os THMs são substâncias formadas quando existe a presença de compostos orgânicos precursores na água a ser tratada. Quando o cloro é aplicado nestas condições pode ocorrer a formação destes subprodutos.
O limite máximo permitido para consumo humano no Brasil é de 0,1 mg/L, o que corresponde a 100 µg/L. Seckler contou, na entrevista, uma experiência profissional sobre o assunto: Uma estação de tratamento fazia pré-cloração, no entanto tinha abandonado a prática há mais de dez anos. Quando Seckler perguntou qual o motivo da interrupção, ouviu como resposta do gestor da ETA que ele havia escutado que a pré-cloração formava THMs e simplesmente interrompeu o processo. Observando os dados aferidos da época do uso da pré-cloração, o professor notou que a concentração de THMs gerada era entre 20 e 30 µg/L, enquanto o limite máximo estabelecido pela legislação era de 100 µg/L , portanto, a água tratada estava completamente dentro dos padrões de potabilidade vigentes. “É um equívoco monumental causado pela falta de conhecimento”, pontuou.
Como se formam os THMs?
Uma vez que podem existir uma grande variedade de compostos orgânicos precursores em águas naturais e esses compostos tendem a apresentar diferentes propriedades físico-químicas, podem ocorrer diferentes reações com o cloro e que justificam a sua formação. Por isso, é indispensável o monitoramento intensivo da qualidade da água tratada de forma que seja possível avaliar a extensão do problema. Alguns fatores como o tipo de coagulante empregado da ETA, pH de coagulação, tempo de contato e temperatura devem ser levados em consideração. Em pH mais básico, por exemplo, potencializa a formação de THMs e tende-se a reduzir a formação de ácidos haloacéticos. Por sua vez, em valores de pH mais ácidos, diminui-se a formação de THMs e favorece-se a formação dos ácidos haloacéticos. Já em temperaturas mais elevadas maximizam a formação de ambos THM’S e ácidos haloacéticos.
Outros fatores que influenciam na formação dos THMs são a dosagem de cloro e o modo de operação do processo de coagulação, haja visto que quando devidamente otimizado, é possível maximizar a remoção de compostos orgânicos precursores e, assim sendo, minimizar a formação de subprodutos da desinfecção.
A grande complexidade dos compostos orgânicos precursores e as inúmeras formas possíveis de reação com o cloro ainda não permitiram estudos mais precisos e claros sobre a química e cinética de formação dos THMs.
A preocupação para a saúde é que humanos expostos por muito tempo ao consumo de THMs estejam vulneráveis a desenvolver alguns tipos de câncer, mas as pesquisas ainda são pouco conclusivas, uma vez que a maioria dos testes realizados até aqui foram em animais de laboratório, em experiências controladas.
“Valores pontuais não significam riscos reais. Para que os THMs sejam realmente um risco à saúde é necessário que as pessoas estejam submetidas a longos períodos de exposição, diariamente, a altas concentrações deste subproduto. Por isso o monitoramento precisa ser feito com maior regularidade , especialmente em ETAs que, de alguma forma, apresentem maior tendencia de formação de subprodutos da desinfecção, e não bimestralmente como ocorre em grande parte do país”, finaliza Sidney Seckler.
Cloro Hidrogeron e os Trihalometanos
Existem várias formas de controle na formação de THMs durante todo o processo de tratamento de água, como técnicas de otimização do processo de coagulação, seja mediante o uso de diferentes agentes coagulantes, aumento na dosagem de coagulante e controle do pH, uso de carvão ativado em pó ou carvão ativado granular. A Hidrogeron possui técnicas para minimizar a formação dessas substâncias a fim de tornar o tratamento mais eficiente e seguro, tanto na cloração da água como na de efluentes.
Assista ao trecho da entrevista com Sidney Seckler para a 3ª Semana da Água Hidrogeron: