O lodo de esgoto tem um grande potencial para o uso agrícola e melhoria da qualidade ambiental de solos degradados. Este material, quando tratado e utilizado dentro dos critérios sanitário-agrícolas, deixa de ser um problema para ser um ótimo aliado da agricultura na recuperação química e biológica da terra. “A gestão do lodo de esgoto” foi o tema trazido pelo engenheiro agrônomo Cleverson Andreoli, convidado da Hidrogeron na live da série “Saneamento em pauta”.
Cleverson é mestre e doutor, professor universitário e ganhador de prêmios relacionados a projetos ambientais, em especial o tratamento e aproveitamento do lodo de esgoto, assunto sobre o qual coordenou e escreveu nada menos que 10 livros.
O agrônomo aponta que na Europa 57% do lodo de esgoto é reciclado na agricultura. Em alguns países como a Alemanha, existe o aproveitamento energético do lodo seja pelo biogás, seja pela incineração do lodo desidratado.
No Brasil, o uso agrícola é de apenas 14% do lodo de esgoto tratado. Cleverson aponta que, além do desperdício de nutrientes, mais da metade do esgoto tratado é destinado incorretamente, contaminando de forma dramática o meio ambiente.
O que é o lodo?
Ao contrário do que comumente se imagina, o lodo não são, ao menos diretamente, dejetos humanos. São concentrações de bactérias que formam micelas, basicamente colônias. Quando essas colônias crescem, os flocos biológicos formados por elas precipitam e sobem, trazendo também os metais pesados que o esgoto possui. O lodo tratado e em condições sanitárias e químicas adequadas é chamado de biossólido.
O biossólido pode oferecer excelentes cargas de nutrientes para reativar a vida nos solos desgastados. O mais importante, no entanto, é que este “concentrado de contaminantes”, com elevado potencial poluidor, deixa de ser um vilão ambiental para se tornar um amigo da terra. Cleverson alerta que os impactos ambientais de minas de extração de fosfato e calcário são gigantes, enquanto se pode encontrar grande quantidade desses materiais em lodo de esgoto. O calcário, por exemplo, é utilizado em larga escala na agricultura nacional para elevar o ph do solo A mineração de calcário transforma até mesmo serras em imensas crateras com centenas de metros de profundidade. Muito disso poderia ser evitado com o aproveitamento do lodo.
“O Brasil tem todas as condições de utilizar amplamente o lodo na agricultura em larga escala, dentro do conceito de economia circular que beneficia todas as partes, desde a sociedade, ao meio ambiente e economia circular” – Cleverson Andreoli
Cleverson realça que é fundamental conhecer um perfil sanitário do material resultante de cada ETE. Após rigorosas análises, estabelecer estratégias para que se esteja sempre dentro dos critérios de regularização agronômica. “O Brasil tem todas as condições de utilizar amplamente o lodo na agricultura em larga escala, dentro do conceito de economia circular que beneficia todas as partes, desde a sociedade, ao meio ambiente e economia circular” e lembra que “melhoria da qualidade ambiental nos solos onde o lodo foi aplicado é visível, como muitas pesquisas mostram. Aumenta drasticamente a produtividade”. Para Cleverson, o Brasil ainda tem preconceito com a utilização do lodo na agricultura, no entanto é recomendado pela OMS, pois dentro dos critérios exigidos é absolutamente seguro. No Paraná se usa há mais de 20 anos em projetos monitorados e as experiências nunca trouxeram resultados negativos.
Neste trecho que selecionamos da live de Cleverson Andreolli, o engenheiro agrônomo fala sobre o aumento de produtividade em terras onde foi aplicado o lodo tratado. Ele mostra fotos nas quais aparecem a produção em áreas com a cobertura do lodo tratado e as que não receberam o insumo. Assista ao vídeo e veja as impressionantes diferenças:
