O desafio do dimensionamento de ETAs foi o tema da live com Paulo Voltan, engenheiro civil, mestre e doutor em Hidráulica e Saneamento, e que atua há 16 anos em consultorias, estudos e projetos básicos e executivos na área de saneamento. O vídeo faz parte da série de lives “Saneamento em pauta”, promovida pela Hidrogeron em seu canal do Youtube.
Paulo inicia sua apresentação com uma pergunta elementar, porém fundamental: Por que tratar a água? Lembrando que uma pessoa bebe cerca de 2 litros de água por dia, mas utiliza, em média, entre 120 e 150 litros de água potável para atividades domésticas, higiene e preparo de alimentos, Paulo contextualiza o problema: “Em 7 anos (de 20011 a 2018) a cobertura de pessoas atendidas com água tratada no Brasil passou de 82% para 83,6%. Ou seja, cerca de 30 milhões de brasileiros ainda não possuem acesso à água tratada. É o equivalente à população de muitos países europeus”, explica.
O engenheiro, que atualmente é diretor-executivo da Projetae, mostra fatos que comprovam o quão grande é o ganho quando se investe em saneamento:
“Apesar do crescimento tímido na ampliação de coleta e tratamento de esgoto, que passou, nesses 7 anos em questão, de 37,5% para 43%, isso representou um grande e imediato impacto na saúde pública. Neste mesmo período, a taxa de internamentos por problemas relacionados à falta de saneamento caiu para quase a metade. Em 2011 aconteciam 150 internamentos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2018 já havia caído para 80 internamentos/100 mil habitantes”.
É importante a gente lembrar que entre 40 e 50% das internações no Brasil ocorrem por falta de saneamento adequado”. – Paulo Voltan
Um país continental e cheio de diferenças locais
Somos o 5º maior país em área territorial do mundo, temos grandes diferenças regionais e sociais, e para o engenheiro isso exige projetos diferenciados uns dos outros. “O primeiro olhar que se deve olhar quando se dimensiona a ETA é para a comunidade a qual ela vai atender. Quais suas especificidades? Vai existir mão-de-obra para operar esta ETA? Qual a capacidade de manutenção?” questiona Voltan, ponderando que uma determinada área escolhida para a instalação da ETA pode inviabilizar determinadas tecnologias.
Mas que água é essa?
Durante a apresentação, Paulo Voltan alerta que “às vezes se projeta uma estação sem conhecer detalhes importantes sobre a água que vai se tratar. Uma mina de água tem um baixo nível de contaminantes. Muitos rios (aí, ele cita o encontro do rio Negro com o Solimões, que formam o rio Amazonas) possuem um tipo de água diferente em cada uma das suas margens. E cada rio tem suas variações específicas na água ao longo do ano”.
Por isso é muito importante, para o engenheiro, o estudo de tratabilidade, que dá mais precisão ao dimensionamento. Assim como o completo estudo sobre quais os riscos a bacia hidrográfica onde se capta a água está sujeita, para que a ETA esteja preparada para possíveis ameaças, utilizando tecnologias que possam mitigar esses riscos.
Qual tecnologia?
Uma vez considerados todos os estudos e aspectos do manancial de captação, aí, sim, são elencadas as tecnologias para que se possa escolher qual a mais adequada para tratar a água bruta.
Associação de tecnologias para garantir a qualidade da água é, para Voltan, um recurso interessante para solucionar problemas específicos de cada local, como o uso de dois ou três tipos de desinfetantes ou oxidantes que possuam espectro de ação diferentes. E lembra:
“É preciso analisar se a bacia hidrográfica tem ocorrências de cisto de giardia e Cryptosporidium, pois são bastante difíceis de remover e que, se passarem por sua ETA, podem representar um grande problema de saúde pública”. – Paulo Voltan
No final, o engenheiro ressalta que não se deve apenas seguir os valores de norma durante o dimensionamento da ETA, sob o risco de superdimensionar ou subdimensionar a realidade daquela ETA.
Assista ao final da apresentação, no qual Paulo Voltan responde as perguntas feitas pelos participantes durante a live: